quarta-feira, 3 de junho de 2009

SOBRE RETRATO RADICAL


"Homem bomba" é o mais novo lançamento do Retrato Radical. Com quase duas décadas de história, o grupo é um dos mais representativos nomes do Rap produzido em Minas Gerais. Seis anos após a publicação de "O barril explodiu", de 2002, o Retrato, oriundo da Vila Embaúbas – situada na região oeste de Belo Horizonte –, chega ao seu terceiro disco, mostrando evolução e amadurecimento. A compilação traz 11 faixas, produzidas por Nicolas Vassou (Enece beats). A captação dos vocais foi feita pelo DJ Spider. Mixagem e finalização ficaram a cargo de Eazy-CDA, do selo Xeque Mate Produções.
O olhar crítico sobre a organização social brasileira – caracterizada pela desigualdade – está presente em todo o contexto de "Homem bomba". Já na faixa de abertura, "Cabuloso", os irmãos Anderson Luiz de Paula (Radical T) e Marcelo de Paula (Canela) não poupam frases para questionar a eficiência da educação pública no país. Nos versos (repetidos no refrão): "Fessora (uma referência a figura docente), seu aluno não venceu", essa provocação fica evidente. "Cabuloso" também traz a participação de N.L, nos vocais.
"Bike avião", "Sai musquito" e a faixa título, "Homem bomba" – uma metáfora do cidadão "comum", que a qualquer momento pode "explodir", em função das frustrações e dificuldades impostas pelo cotidiano do povo brasileiro –, são outras músicas que abonam ao disco o tom da crítica. A faixa que batiza o álbum ainda traz, nos vocais, a interpretação peculiar de P.Drão, do grupo A Profecia.
Mas não pense que "Homem bomba" é feito de meras acusações desmedidas às autoridades e à sociedade brasileira. Os termos evolução e amadurecimento cabem muito bem na crítica do disco. Aliada à sagacidade do discurso de Radical T e Canela, o grupo se equilibra com as rimas de Aclézio Agripino (Duke) e com a voz de Jaqueline Carvalho. Sem falar nos scratchs de Odair Gomes, o DJ Pooh, que desde o primeiro trabalho do Retrato – "Seja mais um", de 1995 – traz para o grupo, com mérito, a forte presença dos toca-discos.
Vale destacar, ainda, a primeira música do álbum a ser trabalhada, "78", uma crônica do ano de 1978 aos olhos dos irmãos de Paula – então crianças na época –, embalada por uma melodia nostálgica. A faixa faz diversas referências a acontecimentos que marcaram a vida deles naquele ano. Para finalizar, cabe citar "O último pôr do sol", música marcada pelo que se pode chamar de "poesia marginal", além das frases de violino, que dão à base instrumental e, por conseqüência, à própria música, um ritmo melancólico.